Em cerimônia realizada no último dia 18, a docente comentou sobre sua trajetória e também falou de projetos futuros

Por
Eliete Viana
Data de Publicação
25/05/2018
Editoria
Institucional

 

Na tarde do dia 18 de maio, sexta-feira, a docente do Departamento de História Raquel Glezer recebeu o título de professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, no Salão Nobre do prédio da Administração da Faculdade, tornando-se a 59ª pessoa a receber esta homenagem.

A diretora da FFLCH, Maria Arminda do Nascimento Arruda, iniciou a cerimônia destacando a importância do título. “Como sabemos, o título de professor emérito é uma distinção dentro da academia que poucos recebem. É um ato de homenagem à professora Raquel Glezer, mas também é um ato de valorização do docente da Faculdade”, disse.

O título de professor emérito é uma distinção concedida, segundo o artigo 93 do Estatuto da USP, a professores aposentados que se destacaram por atividades didáticas e de pesquisa ou contribuíram, de modo notável, para o progresso da Universidade.

A homenageada entrou no Salão Nobre conduzida pela professora emérita Maria de Lourdes Monaco Janotti, também do Departamento de História.

Após a entrada e a assinatura do termo oficial de outorga do título de professora emérita, o chefe do Departamento de História, Osvaldo Luis Angel Coggiola, fez os cumprimentos à Raquel. O chefe lembrou da convivência no Departamento, ressaltando que ela é uma das que mais merecem receber este título.

A saudação foi realizada pelo docente do Departamento de História Marcos Silva. “A concessão do título de professora emérita a Raquel Glezer é um ato de justiça num mundo onde a justiça se faz cada vez mais rara”, destacou.

Silva fez um panorama sobre o trabalho de Raquel, que segundo ele “soube aliar a paciência do trabalho de historiadora à ética sempre vinculada à crítica”. Além disso, falou da experiência pessoal de ter sido aluno dela em uma disciplina ministrada no ano de 1972, e da oportunidade de ter convivido com ela depois como colega de trabalho também.

“Nosso reconhecimento, na forma deste título, é uma humilde homenagem a tal contribuição valiosa e insubstituível. Obrigado, Raquel, precisamos de mais pessoas como você”, encerrou.

Trajetória e memória

A nova professora emérita iniciou seu discurso agradecendo pela concessão do título. Em tom de brincadeira, alertou que não ia fazer um ensaio ou relatar dados que estão no seu currículo lattes, mas sim tentar relacionar suas atividades profissionais com as suas memórias.

Ela relatou que a Faculdade encontrada quando iniciou seus estudos é diferente da atual – a professora fez a graduação em História ainda pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e depois continuou a especialização em Metodologia da História e doutorado em História Social pela atual FFLCH. Entre as diferenças citadas estão a organização dos cursos em Cátedras, as mudanças em espaços e áreas especializadas, a quantidade de docentes e funcionários, o número de estudantes em cada nível de ensino e pesquisa.

Raquel lembrou também de como era a Cidade Universitária, dos prédios que existiam e aqueles que estavam sendo construídos, como o Conjunto Residencial da USP (Crusp) e o que receberia os cursos de Geografia e História, nomeado como Eurípedes Simões de Paula.

A docente criticou os ataques que a área acadêmica científica, a Universidade como instituição, à própria FFLCH e os estudos históricos recebem.

“A Universidade custa muito caro e não apresenta os resultados desejados! A Universidade não resolve os problemas da saúde, do ensino, do território, do passado e do futuro desejado. Velhos refrãos repetidos desde os anos de 1940. A impressão é que de modo mágico a Universidade se encarregará de resolver tudo o que está problemático, como se problemas estruturais de administração pública pudessem ser resolvidos em abstrato, sem interveniência da sociedade”, declarou.

Sobre a Faculdade, na qual ela fez a carreira acadêmica e tem como sua casa intelectual, como ela mesma ressaltou durante a cerimônia, Raquel lembrou que os ataques sempre aconteceram. “Os ataques à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas fazem parte do histórico da unidade. Não preciso repetir os chavões contra ela conhecidos de todos nós. Pressupostos que nos regem, os da liberdade de pensamento, de pesquisa e de expressão, ainda assustam a sociedade conservadora no século XXI”.

E ela não poderia deixar de comentar sobre a sua área de atuação. “Quanto aos estudos históricos, são eles alvos prediletos dos conservadores que acreditam que o passado narrado é verdadeiro e imutável, pois todo mundo sabe o que aconteceu”.

Projetos

Depois, citou professores marcantes, que segundo ela ficaram como influências duradouras para a sua carreira acadêmica, como Joaquim Barradas de Carvalho (1920-1980), Carlos Guilherme Motta e Emília Viotti da Costa (1928-2017).

A agora professora emérita comentou sobre os temas de alguns de seus estudos realizados no doutorado, para obtenção do Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP), livre-docência, entre outros. E contou que ainda tem projetos a concluir, como continuar estudando os historiadores dos séculos XIX e XX e as formas de trabalho que usavam; a questão da terra urbana e a administração municipal; e retomar a análise de obras de divulgação histórica em maior espaço de tempo.

Para finalizar, a professora disse que “é muito difícil reduzir 50 anos de profissão e experiências a minutos, por mais alongados que sejam! Há muitas lembranças pelos caminhos percorridos, e só podemos agradecer pelos braços amigos, pelos ombros acolhedores, pelos ouvidos atentos”.

Após a fala da homenageada, a diretora Maria Arminda finalizou a cerimônia ressaltando a relevância de eventos como esse. “É um momento de júbilo e celebração da nossa casa. Instituições, como as universitárias, hierarquizam, mas também celebram e, assim, expressam a sua importância. A professora fez uma exposição da própria trajetória e uma reflexão digna do título de emérita”.