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Anita Novinsky viveu quase um século, quase 99 anos, nos dando sempre um exemplo, em muitos sentidos. Poucas pessoas que eu tenha conhecido ou conheça tinham tanta energia e amor pela vida, ela, que teve sua família (ou boa parte dela) exterminada pelo nazismo, no Holocausto na Polônia, onde ela nasceu em 1922. E talvez por isso mesmo.  E talvez por isso mesmo vivesse tanto, ativa até o fim (me lembro dela andando nos nossos corredores ainda em finais de 2019, pouco antes da pandemia). 

Sua condição de docente exemplar e historiadora pioneira, já apropriadamente evocadas aqui, eram uma derivação, uma consequência, disso. Me lembro das inesquecíveis reuniões, para jantar (e como!) e discutir temas no seu apartamento da rua Escócia. Uma vez discutimos Israel-Palestina, um grupo bem grande, saiu faísca pra tudo que é lado, ela adorou. Me lembro do apoio enorme que ela menos deu em eventos de cuja organização eu participei, a começar por aquele do bicentenário da Revolução Francesa (no qual ela falou da perseguição aos "afrancesados" no Brasil Colônia, comentada  por Laura de Mello e Souza, depois publicamos tudo). 

Apesar de especializada em temas bem conhecidos, ela tinha uma visão bem ampla. E democrática. Não era comunista, mas me levou pra falar do movimento operário comunista judeu na UFRJ. Organizou um evento sobre marranos, no centro de São Paulo, com o grande escritor argentino Marcos Aguinis ("A Saga do Marrano"). Não gostava dos ambientes com homogeneidade de opiniões, e era generosa com opiniões divergentes ou contrárias à sua. Sua contribuição foi enorme, pelo seu conhecimento, trabalho e, sobretudo, pela sua atitude.

Em 27 de março de 2015, recebeu o Título de Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Prof. Dr. Osvaldo Coggiola, Professor Titular do DH/FFLCH/USP